Nas escrituras de Manoel de Barros, o autor convida o leitor a escutar as suas memórias fósseis, os clamores antigos que carregamos. Um verdadeiro movimento arqueológico de escavar as heranças, as infâncias, o passado mais distante, ou seja, um movimento de reconhecimento dos nascimentos remontados no interior da pessoa. Na mostra No Tempo das Conchas e da Jacutinga sonhamos estabelecer um olhar sobre as memórias mais antigas dos primeiros habitantes da Baía da Guanabara e a partir deles trazer notícias de etnias originárias, denominados de índios, sobreviventes do processo de colonização europeia e do avanço do modelo urbano industrial capitalista. Povos que lutam ainda hoje para defenderem sua terra, sua maneira de viver, sua língua, sua arte e suas devoções.
Compreendemos o Tempo das Conchas como o tempo dos primeiros habitantes do litoral e das Cercanias da Guanabara. Eles eram caçadores, pescadores e coletores. Viviam principalmente da coleta de conchas, ostras, mariscos e da cata de siri e caranguejo. O Tempo da Jacutinga compreende o tempo dos povos agricultores e ceramistas, viventes no entorno da Baía da Guanabara. Eram Tupis e, no Rio de Janeiro, receberam a denominação de Tupinambás. Segundo Jean Lery, havia mais de 35 aldeias Tupinambás no Recôncavo Guanabarino nos anos de 1550 e 1560. Encontramos registros da presença da Aldeia Jacutinga e da Aldeia Sarapuí no território do atual município de Duque de Caxias.
A mostra é portanto, um caminhos para nos conectarmos com essa memória fóssil e com os povos indígenas viventes no Brasil de hoje. Traçarmos caminhos de solidariedade e conhecimento do outro.