Oséias Casanova é um artista plástico que ocupa um lugar de vanguarda no estado do Rio de Janeiro. De traços firmes e precisos, de formas contundentes e expressivas, sua arte é uma versão da cultura afro brasileira que faz a cidade de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, pulsar como um lugar onde a negritude está presente, mas nem sempre reconhecida por sua população. Oséias Casanova é um artista com múltiplas técnicas, diferentes percepções e de uma clareza de seu lugar na sociedade. A sua obra nos oferece a oportunidade de reflexão e instiga a todos que contemplam as suas obras sobre as vozes silenciadas desde os tempos dos navios negreiros.
A exibição “Mãos que sangram: arte afro brasileira na periferia” foi pensada a partir das informações biográficas que apenas seus amigos mais próximos conheciam, mas que agora, juntamente com a sua família, Oséias Casanova resolveu compartilhar com o grande público. Os seus primeiros desenhos, ainda quando criança, foram para a lixeira, uma vez que sua família não compreendia o valor da cultura como estratégia de transformação da condição social herdada dos tempos do pós abolição. Mesmo muito interessado por diferentes formas de fazer arte, sem incentivo, o jovem Oséias trabalhou em diferentes atividades que pudessem garantir sustento para a sua família: ajudante de pedreiro, ajudante de entrega de material de construção, caminhoneiro, entre outras. A sua autodescoberta como artista se deu de forma trágica. Depois de um grave acidente doméstico, ele teve os ligamentos das mãos rompidos, além de cortes que lhe renderam mais de 170 pontos. Com os movimentos das mãos comprometidos e sem condições para despesas com tratamentos fisioterápicos, ainda no hospital, com um lápis e um papel em branco, voltou a desenhar. Depois que retornou para sua casa, com um martelo e um formão sem muita qualidade, resolveu fazer uma escultura entalhada na madeira que servia de assoalho para o caminhão onde trabalhava como ajudante de entregas em uma casa de material de construção. Mesmo com dor e com as mãos sangrando, Oséias Casanova produziu a sua primeira escultura entalhada em madeira, dando início há uma série que compõe a exibição que o Museu Vivo do São Bento tem a honra de receber.
Com a mão curada e novas perspectivas sobre sua própria vida, Oséias Casanova não parou de desenhar, pintar, moldar e esculpir. Artista premiado no Brasil e em diferentes partes do mundo, a obra de Oséas Casanova é uma inspiração para um outro olhar sobre a periferia e a cultura afro brasileira. Desse modo, convidamos uma imersão no profundo da alma desse artista de Duque de Caxias, mas que também é do mundo, é de todos nós.