Canudos

A exposição fotográfica “caNUdos: a república nua”, faz parte do acervo do Museu da República. É composta por 69 imagens de autoria de Flávio de Barros, constituindo o único registro fotográfico conhecido da tragédia de Canudos, ocorrida entre 1896 e 1897. O acervo é reconhecido como patrimônio documental de interesse nacional e internacional, pela UNESCO, no Programa Memória do Mundo, em 2008. Esta exposição foi apresentada, anteriormente, no Museu da Maré e agora é acolhida pelo Museu Vivo do São Bento. A guerra de Canudos foi um dos conflitos mais sangrentos da História do Brasil. Resultou na destruição do povoado de Belo Monte, caracterizando-se como um trágico genocídio de sertanejos pobres, instaurado pelo Exército Brasileiro nos primeiros anos de nascimento da república.

O sentido de república como “coisa do povo” não foi evidenciado na experiência inaugural brasileira. Na realidade, o que se tinha era uma república dos coronéis, marcada pelos mandos e desmandos dos proprietários rurais e por um processo de alargamento do latifúndio e da grilagem. Desconsiderou-se a tradição secular do direito à terra para os que nela vivem e trabalham. Na república proclamada valia mais os aspectos da Lei de Terras associados à concepção da terra como mercadoria de compra e venda, como moeda para obtenção de riqueza móvel obtida pelas hipotecas; o que provocou intenso processo de concentração fundiária, um verdadeiro cercamento dos campos brasileiros. Milhares de camponeses foram excluídos do direito à terra e ao trabalho, e ainda enfrentaram a dureza da seca. Além disso, instaura-se a cobrança de tributações injustas, agravando o quadro.

Acrescente-se a este cenário a ausência do clero nas localidades mais empobrecidas e o crescimento de um catolicismo popular, o surgimento das beatas e beatos a construir capelas e a manter os ritos e práticas religiosos. Antônio Conselheiro foi um desses beatos carismáticos. Anunciou a possibilidade de um território comunitário, sem coronéis e sem impostos. Atraiu multidões em direção à tão sonhada terra prometida.

Canudos é expressão do primeiro grande movimento de contestação à república nascente, mas representa também a resposta dada por esta república aos sertanejos: morte, destruição, fogo e degola. Era necessário cortar as cabeças, as concepções de mundo dos sertanejos, e incendiar, queimar as memórias. Contudo, apesar da degola, Canudos não caiu no esquecimento. Vários registros foram realizados por jornalistas, pelo escritor Euclides da Cunha, pelo fotógrafo Flávio de Barros e, principalmente, pela memória oral e corporal dos nordestinos.

Informações

  • EXPOSIÇÃO TEMPORÁRIA
  • Curadoria: Mario Chagas, Marlucia Santos de Souza, Silvia Pinho
  • Local: Museu Vivo do São Bento
  • Horário de Visitação: seg-sex, das 9h às 17h
  • Duração: de 17 de outubro a 17 de novembro 2019
  • Entrada: Gratuita